quinta-feira, 11 de outubro de 2012

As crianças de hoje e talvez de sempre


- Feliz dia das crianças querido- disse a mãe.
- Mãe, eu já disse, não sou uma criança.
Carlinhos discutia sempre nesse mesmo tema, ele não aceitava que era uma criança e nem ao menos queria ser uma. Tão novo e já achava-se adulto. Decidira começar uma revolta, agora começava o ataque.
- Mas meu filho, você só tem dez anos - retrucou a chefia do local.
- Pai, você acha que eu sou uma criança?
- Filhão, como a mamãe já disse, você só tem dez anos, mal acabou de sair das fraldas.
- Eu posso com isso?! Vocês me humilham assim? Eu já tenho idade suficiente para não ser chamado de criança. Por que vocês não chamam a Paula de criança?
- Carlinhos, a Paula é diferente, ela já tem dezoito anos, não tem cabimento algum nós chamarmos ela assim, bobinho - disse a mãe bem humorada.
- Isso não faz sentido - gritou o garoto, que berrava como um comunista- é uma pequena diferença de idade, são somente oito anos. Eu não sou uma criança! Não posso ser chamado assim!
- Ai, filho, calma- disse o pai, sem dar muita atenção ao filho- espere para ser adulto quando crescer.
- Não! Vocês adultos querem ser donos do mundo! Não deixam nós, pessoas de idade mais baixa, opinarmos em nada, ainda vêm com esse insulto, apelidar-nos  de criança? Já não é demais? Vocês  dirigem os carros, dizem o que devemos ou não comer, ainda nos obrigam a comer espinafre, aquele "troço" é muito ruim. Eu quero ser dono do meu próprio nariz, quero ser adulto! Ninguém manda em vocês, não precisam de hora para comer, nem ao menos de hora de dormir, podem comer a bolacha todinha a hora que quiser, sem nem avisar nada a ninguém. Além de tudo querem ser altos sozinhos. Isso é demais! Eu quero um abaixo a ditadura adultista- o garoto já sabia inventar palavras.
- Tá bom então - respondeu a mãe gritando igual a um sindicalista no Primeiro de Maio - é o que vamos ver! Você quer ser adulto então prepare-se porque a "bobiçada" acaba por aqui. Nada mais de televisão ou videogames, se você quer, vá trabalhar para comprar. Quer comer bolacha toda hora? Então, vá comprar. Não quer espinafre? Problema.  Agora vai ser assim: nada de cafuné, ouviu Arnaldo? - falou ela olhando para o marido- Nada de chocolate, nada de alguém te cobrindo na cama, nada de brincadeiras na rua ou no computador, agora você terá que trabalhar. É isso, você não quer brincar de adulto, não quer um abaixo a ditadura "adultista", então iremos ver.
"Acho que a revolta não deu certo", pensou o garoto.
- Mãe, obrigado pelo feliz dia das crianças, tem cafuné ainda?


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