sábado, 6 de julho de 2013

Quando você não sabe o que escrever II- O estranho...

Algumas pessoas pediram para que eu escrevesse mais no último post. Principalmente, achei que deveria escrever mais. Decidi então continuar esta dissertação.
Acabei, ao acaso, a me perguntar, por que Shakespeare havia escrito aquilo?  (se você não se recorda do último post, clique aqui). Por vezes, a resposta pode ser óbvia, ele escreveu porque cairia bem na peça. Eu aceito isso, pois não sou dono da literatura, e também, por mais que saibamos o quanto de pessoas fazem isso, não posso dizer o que ele estava pensando ao dizer aquilo.
E é neste estranho momento que chego a estaca zero, e volto as falas anteriores, em busca da resposta. Acho a brilhante fala de Horácio: "O day and night, but this is wondrous strange!". Para quem não entendeu, segue a tradução: "Oh, dia e noite, mas isto é magnificamente estranho!"
Isto é magnificamente estranho. Quem é estranho? Na obra de Shakespeare, obviamente, o fantasma. Mas obras não podem ser lidas somente como aquilo que é. No tempo em que eu escrevo aqui já pode ter percebido, é absurdamente necessário ler as entrelinhas. E, além de tudo, torna-se absurdamente necessário para aquilo que lermos não se tornar inócuo, que saibamos interpretar aquilo no nosso cotidiano.
Quem é o estranho, hoje? Aquilo que se tornou um alienígena na nossa vida?
Hamlet falava de um fantasma, eu quero falar do nosso fantasma: nós mesmos.
Aquilo que é estranho a nós é exatamente nós.
O que foi dito acima, traduzido: eu sou estranho a mim. Quer ver? Responda a pergunta: quem é o seu melhor amigo, detalhadamente?  E quem é você? A primeira é fácil, a segunda muitas pessoas não sabem responder, porque buscam cada vez mais conhecer o outro, ser amigo do outro, mas esquecem de responder a grande pergunta da vida: quem sou eu?
Incomoda ver uma sociedade onde as pessoas tem 5000 amigos no Facebook, tantos seguidores no Twitter, mais uma dúzia de leitores no seu blog, mas não sabem me dizer quem são.
E ai, quem é você Nietzsche?
Certa vez me disseram: uma pessoa que não conhece a si mesmo não é capaz de dar-se ao outro, seja o estado de vida que ela estiver.
Não importa o que nós sejamos, nossa vida é um constante dar-se ao outro, e se nós não conseguimos nos dar ao outro o que acontecera é que não teremos uma vida, teremos uma semi-vida, uma meia-vida. Vive-se uma vida que dá pena, e não vale a pena.
A constante busca daqueles que estão vivos, antes de uma interpretação daquilo que é a sociedade, daquilo que é o mundo, seria dizer aquilo que sou. Será que Nietzsche saberia dizer-nos quem ele é? Posso dizer que, acredito, ele não soubesse quem ele é verdadeiramente. Platão, Aristóteles, Spinoza saberiam?
Na minha cabeça aparece aquele que disse saber quem era: Jesus Cristo.
Aquele filho de carpinteiro, que não teve acesso nem a filosofia e nem a psicologia, respondeu a questão mais difícil como se fosse fácil pra Ele. Até hoje, milhares de pessoas seguem a Ele, e creem que a mensagem é verdadeira, Ele se doou por eles. E ai onde está a grande mensagem, só quem sabe o que é torna-se capaz de doar-se ao outro.
Ao responder essa pergunta, chegaremos a exultação de Horácio, chegaremos a nossa epifania: "Isso é magnificamente estranho"

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