sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Um Eduardo que é também um José


Era Eduardo que acordava, mas sua mãe já havia acordado muito antes.
Eduardo ainda estava novo, pensava na faculdade, queria prestar todos os vestibulares possíveis, todos as grandes faculdades eram parte do seu sonho. Queria ser doutor, Doutor em Letras... talvez amasse ler. 
Sua mãe acreditava no sonho dos filho. Trabalhou como copeira durante muitos anos em um grande hotel, saía sempre as cinco horas da manhã, voltava sempre as oito da noite, era depressivo trabalhar dessa forma. Foi difícil para ela colocar o filho nos trilhos, sem marido, sem família, somente ela, o filho, Deus e o mundo que a condenava por trabalhar tanto por aquele rapaz. Ter um filho Doutor em Letras era contrastante, ela não sabia ler, não havia estudado, porém estava nova, tinha 37 anos ainda, uma moça. Quando criança trabalhava para seus pais, eram boias-frias no Nordeste, dinheiro era algo que ela não conhecia bem. Aos 15 anos estava grávida, precisava criar seu filho e aquela situação não era o que ela queria para aquela pequena criança que ela gerava em seu ventre, ela que nunca pensara em abortá-lo, por mais que o pai dele nunca tivesse dado conta de que teria um filho. Eduardo não tinha nome do pai na certidão de nascimento, mas isso não era tristeza para ele. Já aquela mulher que estava vindo do Nordeste tentar a vida parecia que iria padecer, desistir. Como mãe, desistir não era uma palavra que ela conhecia. Quando conseguiu, encontrou um emprego, uma mulher, que viera da mesma cidade que ela, a contratou, seria babá e faxineira, enquanto a patroa estaria atendendo em seu consultório ou então dando aula na maior faculdade de medicina do Estado. Ela ficou trabalhando naquela casa por três anos, até encontrar o emprego de copeira, este mesmo que ela sai sempre as cinco da manhã e volta as oito da noite, e de qual ela folga uma vez por semana; para ela tal emprego era um descanso. 
Ela criava Eduardo com todo o mimo possível para a realidade dela, em troca, o garoto deveria estudar. As notas de Eduardo sempre foram bem altas. Era um rapaz bonito, puxara a mãe, que era linda e forte, com belíssimos olhos azuis, que davam um belo contraste naquele corpo moreno por conta do sol. Além de estudar ele cuidava da casa; era recíproco, ele vivia para sua mãe, ela morreria por ele. Por vezes, limpava a casa, fazia o jantar e ainda escrevia durante madrugadas. 
De tanto estudar, Eduardo conseguiu uma bolsa em uma escola, dessas que passam na TV o número de alunos que passaram nas grandiosas faculdades públicas no último ano; faculdades como aquela onde a primeira patroa de sua mãe trabalhava. Ele entrou pela porta da frente, mas lá deixou de ser Eduardo, tornou-se só mais um José, como tantos outros. Sentiu a diferença social, não entendeu por quê sua mãe trabalhava tanto sendo que a mãe de outros alunos tinha tempo para busca-los na escola. "Onde estava a justiça?", e sobre essa pergunta é que fazia suas reflexões; como pode muitos terem tão pouco enquanto poucos têm muito. Doeria para ele saber que a mãe de algum de seus "amiguinhos" era a dona do hotel em que sua mãe trabalhava, doeria ver que o "patrão" de sua mãe era um irresponsável e inconsequente e enquanto a mãe deste era dona de um hotel, o filho não passava de mais um alienado por algumas coisas que não fazem tão bem assim.
Chegou então, em um certo dia, uma certa hora da tarde...
A mãe de Eduardo chegara mais cedo em casa, reclamara de uma dor de cabeça daquelas que te proíbem de pensar, nem que seja somente para se copeira. Chegou ela em casa. As dores não paravam, ela desatou a chorar. Deu dezoito horas, o filho deveria chegar em casa por estes momentos, de fato, ele chegou. Era exatamente 18h07, olhou sobre a mesa, viu que a bolsa de sua mãe estava lá e se alegrou. "Talvez ela tenha sido promovida e esqueceu de me contar", começou a gritar por ela, mas ela não o respondeu, achou então que ela poderia ter saído, comprar algumas coisas para comemorar a promoção... assim ele esperava. Quando foi sentar-se para estudar, reparou então em um corpo estendido no chão, era sua mãe que havia desmaiado. Mediu-lhe então o pulso, nada batia.
Eduardo agora acordava enquanto sua mãe estava dormindo.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

It's time to write

A quanto tempo não escrevo por aqui, isso não é descaso, é a soma da falta de tempo com a de criatividade. Criatividade é uma palavra complicada, quando a danada vai embora, acredite, não há nada que a faça voltar. Falta-me a inspiração de grandes acontecimentos, para mim, não para seres humanos normais, mas voilá, nada aconteceu. Passei uma semana em casa, o ócio não libertou minha criatividade, por conta de um tal de GTA V (é um jogaçoalhaço). Esta crise de inspiração é o meu terreno infértil, minha imperfeição total, minha tristeza, nada mais triste do que sentar a frente do computador e não aparecer inspiração nenhum. Mas eu estou decidido a escrever, e não será sobre crise de criatividade, porque eu não gosto de ser repetitivo (sim, eu já postei um texto sobre isso).

"É a nossa luz, não as nossas trevas o que mais nos apavora"
(Nelson Mandela)
Ultimamente eu tenho percebido algo, absolutamente natural diria, já que isso acontece com todo mundo. As pessoas têm medo da luz. "Eu não tenho medo do escuro mas deixe as luzes acesas", não Renato, não,  do que você realmente tem medo é da luz.
Estou falando da luz que emana de nós. Sim, temos uma luz emanente. Somos grandes candeeiros que deveriam andar por ai, sendo luz do mundo. Mas não andam.
Estava estudando Santa Teresinha, dia 1º de Outubro foi o dia dela, algo imperdível, já que é uma santa por quem tenho especial apego. Ela queria ser sal da terra e luz do mundo. O mais bonito é o modo pelo qual ela desejou fazer isso:

"No Coração da Igreja, minha Mãe, quero ser o Amor"
(Santa Teresinha do Menino Jesus)

Nós só temos medo da nossa luz porque temos medo do compromisso que o amor nos trás. Não o tipo de amor entre um homem e uma mulher, estou falando do amor por toda a criação, por Deus (ou aquilo que você acredita), pelo homem (no sentido de humanidade). Do amor no sentido completo. Esse amor nos compromete! Nos coloca em zona de turbulência, perigo. O Amor tira-nos de nós e nos da inteiramente aos outros, sem cobrar nada em troca. O nome disso é gratuidade.
Por fim, cheguei aonde eu realmente queria: gratuidade. Num mundo capitalista, esta palavra virou um palavrão pior do que qualquer outro. Posso contar uma breve história: estava conversando com meus amigos sobre minha opção de vida, até ai não tinha nenhum problema, mas chegou o ponto do voto de pobreza, e ai meu irmão é que a porca torceu o rabo. Por que uma pessoa viveria no voto de pobreza? Para poder amar as  pessoas, ou melhor, somente amar, de uma forma mais gratuita, mais livre.
A nossa vivência só terá sentido quando abandonarmos o nosso medo de deixar brilhar a luz que emana de nós: o Amor.  Temos medo de amar. Precisamos perder esse medo louco de nos comprometer com uma causa. A causa do amar é a causa soberana, a causa de todas as causas.
Vivamos para amar, sem reservas e de forma livre, vivamos pelo Amor. Façamos tal qual Santa Teresinha nos diz nessa frase final: